Você fica acompanhando meus insucessos
estrelas cadentes que são dispersadas pelo microfone
bolhas abortadas ao menor contato com o que é limpo.
Você lambe o cotonete cheio de cera que eu acabo de retirar do ouvido
mastiga meu absorvente usado
e diz que é o seu manjar dos deuses.
Manje como a manga é azeda
e o leite das minha tetas é ácido
e rói suas vísceras estilhaçadas
feito cacos podres de espelhos.
Amanhã a mesa estará posta
e no final da refeição as moscas irão pousar nos restos de alimento
farelos de bolo que você rejeitou.
Se eu fosse feliz não escreveria poemas.
Pena por pena eu desfolho a ema.
Porque a avestruz já está nua em pêlo.
E o elo da cadeia -
a algema -
envolve o meu pescoço como eu queria:
doce carícia
a suaves prestações.
O lençol que não deixaram amarrotado
está esgarçado
como a minha alma fétida e podre que nem as moscas querem.
Eu não queria escrever poemas.
Mas é como se me obrigassem a fazê-lo.
É como se eu fosse uma colmeia trancada
e um enxame quisesse vazar de mim
como vaza a menstruação do útero
como vaza o leite das tetas
como vaza o sêmen do falo
como é inútil tudo o que eu falo
como a água que vaza pro ralo.
O tempo escorre por entre meus dedos
e a potência jamais se metamorfoseia em ato:
sou do esgoto o mais sórdido rato.